quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Depoimento de Nayara leva polícia a fazer reconstituição da invasão pela PM

Nayara contou como voltou ao cativeiro: foi instruída pela polícia a ficar no piso superior da escada, perto do apartamento, e falar com Lindemberg por telefone. Ele havia combinado com os policiais que deixaria a arma no apartamento e sairia de lá de mãos dadas com Eloá e Nayara.
"Quando ela chegou perto da porta, ele estava com a arma apontada para Eloá e exigiu que entrasse", contou o delegado seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos.
A polícia deve ainda analisar imagens gravadas por câmeras de TV para ajudar a esclarecer se Lindemberg atirou antes ou depois que o Grupo de Ações Táticas (Gate) invadiu o apartamento. O perito Ricardo Molina, da Unicamp, não identificou tiros anteriores à explosão da porta nos 12 minutos que antecederam a invasão.
Segundo Nayara, o último disparo ocorrido no apartamento foi entre 15h e 16h. Após uma crise nervosa de Eloá, Lindemberg atirou para o alto. A adolescente disse que estranhou a polícia não entrar em contato com eles nesta hora.
Na noite desta quarta, após saber do conteúdo do depoimento de Nayara, o comandante da Tropa de Choque da Polícia Militar, coronel Eduardo José Félix, convocou a imprensa para falar sobre o caso. Ele afirmou que Nayara não mentiu: se enganou.
"Ela estava como vítima num local de crise. É uma jovem de 15 anos que pode ter perfeitamente se confundido", disse Félix.
Para ele, a polícia agiu corretamente."Foram ações extremamente corretas dentro da necessidade e provocadas, no caso da invasão, pelo disparo. Essa tropa tem toda a minha confiança, minha consideração e respeito", afirmou o coronel, que apresentou um vídeo com o depoimento da moradora Maria Aparecida Mariano da Costa, do bloco vizinho de onde houve a invasão. Nele, ela diz ter escutado um tiro antes da explosão.
Lindemberg também deve ser ouvido pela polícia. A advogada Ana Lúcia Assad, que diz ter sido contratada por um amigo dele, afirmou que o rapaz lhe disse que não atirou antes da explosão. O seqüestrador permanece na Penitenciária II de Tremembé, no Vale do Paraíba. Segundo funcionários, ele voltou a se alimentar normalmente e já sabe da morte de Eloá.
Dois vizinhos do apartamento prestaram depoimento e reforçaram a versão da polícia de que houve um tiro antes da invasão. Quatro dos cinco PMs que entraram no apartamento declararam que ouviram um tiro disparado pelo seqüestrador e que, por isso, tomaram a decisão de resgatar as reféns.
O vizinho do apartamento de cima, Reinaldo Pereira de Souza, contou que, na madrugada de segunda para terça-feira, ouviu Eloá dizendo: "Pára Liso. Pára, Liso", enquanto Lindemberg mandava a adolescente calar a boca. "Liso" é o apelido do ex-namorado de Eloá.
O vizinho disse também que ouviu diversas vezes choro feminino e contou que, do apartamento, pôde ver e ouvir as vezes em que Lindemberg disparou o revólver, durante a semana do seqüestro. Segundo ele, eram perto das 18h da sexta-feira, quando ouviu um disparo de arma de fogo. O barulho mais baixo, disse ele, diferente dos outros ouvidos, vinha de dentro do apartamento de Eloá. O vizinho, porém, não soube dizer ao certo o tempo que se passou entre o barulho do tiro dentro do apartamento e a explosão na porta. Ele diz que demorou um pouco e acredita ter sido um minuto.
O outro depoimento é o do vizinho do lado, Marco Antônio de Araújo, onde os policiais estavam para acompanhar os movimentos do seqüestrador. Araújo diz que, no primeiro dia da operação, apenas um policial militar tinha a missão de escutar o que acontecia no apartamento de Eloá e repassar as informações ao comando. No segundo dia do seqüestro, eram dois. A partir da quinta-feira, disse ele, cinco policiais militares do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) passaram a ocupar o apartamento dele.
Moradores de um apartamento vizinho disseram ao jornal Diário de S.Paulo que a polícia mandou que eles saíssem para "dar uma volta" no fim da tarde de sexta, antes da invasão.
Araújo disse ter ouvido sucessivos gritos na noite de quinta: "Socorro, mãe. Socorro, mãe". Ele diz que tem convicção de que os gritos partiram de Eloá. Na sexta, de acordo com Araújo, os policiais continuavam junto à parede na tentativa de ouvir ruídos e que encostavam um copo de vidro para conseguir escutar melhor.
O vizinho conta que foi autorizado pela polícia a sair de casa por volta das 10h de sexta-feira e que, quando voltou, às 15h, foi impedido de entrar. Segundo ele, todos se preparavam para a rendição do seqüestrador. Mas o tempo foi passando até que, por volta das 18h, quando estava de frente para o apartamento de Eloá, junto da garagem, ouviu um estampido similar ao de um tiro. Segundo Araújo, menos de um minuto depois do disparo, ele ouviu a explosão. Ele ainda reforça. Ele estaria a cerca de 15 metros das janelas do apartamento de Eloá.

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